Hepatite Aguda Infantil de origem desconhecida

Dra. Juliana Tedesco Dias

Dra. Juliana Tedesco Dias

CRM-SP139674

Em abril de 2022 o mundo foi alertado pela OMS sobre uma nova potencial ameaça: a hepatite aguda infantil de origem desconhecida.  Casos confirmados reportados nos EUA, Reino Unido, Europa, Israel e Japão e ainda centenas de casos suspeitos distribuídos em diversos países, dentre eles o Brasil, só aumentam a expectativa em torno desta nova ameaça à saúde.

Os casos vêm sendo descritos em pacientes menores de 16 anos, especialmente nos menores de 5 anos que apesentam inicialmente um quadro de sintomas gastrointestinais comuns à diversas doenças como náusea, vômito, diarreia, dor abdominal que evoluem para sintomas hepáticos mais específicos como icterícia, hipocolia (fezes esbranquiçadas) e colúria (urina escura). A febre foi descrita em até 1/3 dos casos. Na investigação laboratorial, têm se as transaminases aspartato aminotransferase e alanino aminotransferase (AST e ALT) acima de 500U/L, correspondendo a um aumento de mais de dez vezes o limite superior de normalidade. O que mais preocupa os médicos é que 10% destes pacientes tiveram rápida evolução da doença para forma grave, a falência hepática aguda, sendo necessário o transplante de fígado.

Até aí têm se o quadro de hepatite aguda, sendo necessário a investigação da etiologia, que pode ser viral (vírus hepatotrópicos A, B, C, D e E; vírus não hepatotrópicos como citomegalovírus, Epstein-Barr vírus, entre outros). Alguns fármacos podem causar a hepatite medicamentosa, além de causas autoimunes e outras infecções.

O que difere neste atual cenário é que nenhum destes fatores, antes prováveis ou possíveis, foi detectado nestes pacientes, por isso a denominaram de hepatite desconhecida, obscura ou misteriosa. Contudo, a análise laboratorial apontou a presença da cepa Adenovírus 41 frequentemente encontrada e o SARS-CoV-2 com menor frequência, mas também positivo em cerca de 10% dos casos do Reino Unido.

 Existem cerca de 50 cepas de Adenovírus, que normalmente causam doenças respiratórias, como um resfriado comum, a conjuntivite, bronquiolite ou pneumonia. Em crianças, adenovírus é um grande causador de infecções no trato intestinal. A transmissão da cepa do vírus digestivo geralmente ocorre por contato fecal-oral.  Já o Adenovírus 41, apesar de ter sido encontrado em amostras de sangue destes pacientes, até então não foi isolado em tecido hepático. Portanto, neste momento ainda não é possível apontá-lo como a causa definitiva da doença. A relação com a vacina da Covid-19 não foi suportada pois a grande maioria dos acometidos possuía menos de 5 anos de idade, portanto, ainda não vacinados, segundo a OMS. Muito se pesquisa sobre a resposta imunológica no pós infecção SARS-COV-2 e a relação desta com outras infecções virais, porém ainda sem respostas definitivas

Assim, nos pacientes suspeitos, a busca pelo potencial agente desta nova forma de hepatite grave deve ser rápida, para evitar desfechos ruins para com nossas crianças e adolescentes.